sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Lisboa, Tranströmer


Lisboa, Tranströmer
No bairro de Alfama os eléctricos amarelos cantavam nas calçadas íngremes.
Havia lá duas cadeias. Uma era para ladrões.
Acenavam através das grades.
Gritavam que lhes tirassem o retrato.

“Mas aqui!”, disse o condutor e riu à sucapa como se cortado ao meio,
“aqui estão políticos”. Vi a fachada, a fachada, a fachada
e lá no cimo um homem à janela,
tinha um óculo e olhava para o mar.

Roupa branca no azul. Os muros quentes.
As moscas liam cartas microscópicas.
Seis anos mais tarde perguntei a uma senhora de Lisboa:
“será verdade ou só um sonho meu?”

«Lisboa», poema publicado em 1966 e editado em português no volume 21 Poetas Suecos (Vega, 1980). Tradução de Vasco Graça Moura.

Nenhum comentário: